sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A Adega da Mêda tem viabilidade económica

Destaca-mos uma entrevista que saiu no Jornal "Nova Guarda- on-line" sobre a Adega da Mêda

A Assembleia Geral da Adega de Mêda vai reunir em sessão extraordinária na tarde do próximo domingo, dia 7, para eleger os novos órgãos sociais da Cooperativa para o próximo triénio e tratar de outros assuntos de interesse. O presidente da Mesa, Hermínio Albino, garante que estão a ser feitos todos os esforços para erguer a Adega depois de um período de grandes dificuldades.
Nova Guarda (NG) – Como é que tem estado a funcionar a Adega Cooperativa de Mêda?
Hermínio Albino (HA) – A anterior direcção fechou a Adega em Fevereiro do ano passado. Entretanto, conseguiu-se arranjar uma nova direcção, mas, dado que a situação é bastante inconstante, tem funcionado um bocadinho ‘aos engulhos’.
NG – Devido à falta de condições em termos financeiros?

Hermínio Albino, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Adega
Hermínio Albino, presidente da Mesa da Assembleia Geral da Adega

HA - Sim, muito mal financeiramente, e não só.
Perante a situação, constituíram-se novos órgãos para gerir a Adega, tendo como presidente da direcção o engenheiro Rui Droga, de Longroiva, mas que acabou por apresentar a demissão em finais de Junho, juntamente com outro membro. Alegou razões de falta de tempo e de natureza profissional. Ficámos com uma comissão de gestão, assegurando as coisas minimamente.
NG – A recuperação está a ser difícil?
HA – A Adega, em termos financeiros, tecnicamente não está falida, porque o património que possui… os activos superam grandemente o passivo. Só as próprias instalações físicas devem rondar os quatro milhões de euros.
O passivo ronda os 760 mil euros à banca. A dívida à Caixa Geral de Depósitos já vem de anteriores direcções e foi-se acumulando.
Os actuais órgãos não contraíram qualquer dívida. Não tivemos actos de gestão danosa nem qualquer abuso.
Relativamente aos sócios, a questão veio piorando, porque desde 2001 não lhes é paga a produção, ou pelo menos pagavam só uma pequena parte. Desde 2001, a dívida aos sócios deve rondar um milhão e duzentos mil euros.
NG – A actual direcção já pagou alguma coisa aos sócios?
HA - Não, ainda não pagámos nada aos sócios.
NG - O edifício da Adega encontra-se degradado? Precisa de alguma intervenção?
HA - Embora por fora possa parecer degradado, por dentro está bem. Em termos de equipamentos, tem tudo o que é bom. Nesse aspecto, está muito bem equipada. O que os técnicos têm dito é que a Adega precisa de uma remodelação para poder tratar mostos em menor quantidade.
NG – A loja de venda ao público está a funcionar?
HA – Sim, a loja está aberta desde que tomámos posse, fez um ano em finais de Agosto, e foi vendido muito vinho, dando para pagar as contas de funcionamento.
NG – Têm contado com o apoio do Município?
HA – A Câmara tem estado a deitar a mão à Adega. Isto é importante que se diga.
NG – Quantos sócios tem a Cooperativa?
HA – Tem mais de mil, mas muitos foram deixando de colocar ali as uvas.
NG – O que é que foi ‘destruindo’ a Adega?
HA – Considero que a Adega da Mêda tem muita viabilidade económica. Mas eu acho que aquilo que degradou a Adega foi o facto de as anteriores direcções optarem por não pagar aos sócios num longo período, desde 2001. Foi uma política errada, porque quem aguenta as adegas são os viticultores. Ora, o produtor, não se sentindo ressarcido naquilo que tem direito, deixa de colocar lá as uvas. E isso cria atrofio em termos de funcionamento.
NG – Entende, então, que essa foi a principal razão da queda?
HA - Na minha opinião foi, mas também atrevo-me a dizer que houve ali actos de gestão que não terão sido os mais correctos. Não tenho provas ainda, mas havemos de as apurar, pelo menos enquanto eu lá estiver.
NG – Como é que decorreu a última campanha (de vindimas)?
HA – Equacionámos todas as hipóteses de a Adega abrir na campanha deste ano, uma vez que no ano anterior não abriu, não vinificámos. Em 2009 negociámos com o sr. Mateus, em São João da Pesqueira.
Em 2008, abriu com o vinho contratualizado com o sr. Mateus, no tempo da antiga direcção. Em 2009, tomámos posse em Agosto e, por isso, estávamos em cima da vindima. Ainda fomos à Pesqueira, a tentar negociar com o sr. Mateus, mas ele achou que era muito em cima e que não havia condições para abrir a Adega. Mas garantiu-nos que recebia na Pesqueira as uvas dos sócios que quisessem ir para a Adega da Mêda. E foi o que fizemos.
Este ano, a nossa intenção era reabrir a Adega, mas apareceram-nos imensos problemas, desde problemas com a alfândega, problemas atrasados com as Finanças, e por aí fora. Numa casa que está ‘a arder por todo o lado’, andamos sempre a correr para ‘apagar fogos’. E não tivemos o tempo suficiente para podermos reabrir a Adega. Não conseguimos abrir para vinificar ali, mas abrimos já com dois enólogos e com um gestor na Adega. Recepcionámos as uvas, foram pesadas ali e depois foram vinificadas na adega da Sequeira. Transportámo-las dali para a Sequeira.
Dada a proximidade da vindima, se vinificássemos na Mêda ficaria há volta dos 17 ou 18 cêntimos por litro de vinho, e isto foi dito aos sócios, numa política de total transparência. Na Sequeira foi-nos feito o preço de oito cêntimos. Nós apresentamos isso aos sócios e eles concordaram. Agora nós vamos vender aquele vinho. A nossa ideia é vendê-lo na loja ao longo do ano, visto que há uma procura grande.
NG – Como foi feito o transporte das uvas para a Sequeira?
HA - Esse transporte foi apoiado pela Junta de Freguesia da Mêda e pela Câmara Municipal.
Há uma coisa importante a dizer: a Adega da Mêda tem uma capacidade de vinificação de 4,5 milhões de litros e ela só é rentável se receber acima de 700 a mil toneladas de uva.
NG – As reuniões da Assembleia têm sido muito participadas?
HA – Têm. A sala está sempre cheia. Tem havido uma grande motivação, um grande interesse dos sócios em manter a Adega.
A Adega é muito importante, principalmente para os pequenos produtores. É preciso ter essa sensibilidade. É muito necessária. Está a ser muito duro, muito difícil, mantê-la aberta, aguentá-la, mas…
Estamos ali a lutar e temos tido o apoio da Câmara e da Junta de Freguesia de Mêda, cujo presidente, César Figueiredo, tem sido uma pessoa com uma grande força.
NG – Como é que pensam vir a pagar aos produtores?
HA – Pensamos vir a pagar ao longo do tempo, numa percentagem por ano. Em relação ao vinho deste ano, o que é de benefício, os produtores recebem do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). Em relação a algum vinho de consumo que haja, nós também havemos de conseguir.
A Adega tem património em vinho e tem havido procura. Até tem havido um grande interesse em comprar a Adega da Mêda, aparecendo vários candidatos e propostas tentadoras. Na minha opinião, não deve ser vendida. O assunto já foi discutido em Assembleia Geral e os sócios nunca aprovaram a venda da Adega.
NG – Acredita que as coisas melhorem?
HA – Temos essa esperança. Se não tivéssemos já tínhamos desistido.
Digo, para concluir, que, na minha opinião, a Adega é das coisas melhores, senão mesmo a melhor, que tem a Mêda.
CERCA DE 700 TONELADAS DE UVAS
Na campanha deste ano, a Adega da Mêda recebeu quase 700 toneladas de uvas. Um valor que superou as expectativas e que, segundo o presidente da Assembleia Geral, vem reforçar a importância de manter a Cooperativa em funcionamento. “Renasceu a esperança para todos os que, como eu, acreditam no futuro da instituição. Defenderemos a melhor marca da nossa Cidade, até ao limite”, reforça Hermínio Albino.

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